Estamos na conclusão do capítulo 12 do Evangelho de Marcos. Jesus está no templo de Jerusalém, observa e ensina. Por meio do seu olhar, assistimos a uma cena repleta de personagens: pessoas indo e vindo, os encarregados do culto, figuras ilustres com longas túnicas, pessoas ricas depositando suas fartas oferendas no tesouro do templo.
De repente entra em cena uma viúva. Ela faz parte de uma categoria de pessoas social e economicamente desfavorecidas. Despercebida na multidão, ela deposita duas moedinhas no tesouro. Mas Jesus a percebe, chama seus discípulos e os instrui:
“Em verdade eu vos digo: ela [essa viúva], da sua pobreza, ofereceu [ao tesouro do templo] tudo o que tinha para viver.”
“Em verdade eu vos digo […]”. São essas as palavras que introduzem os ensinamentos importantes. O olhar de Jesus, concentrado na viúva pobre, convida-nos a olhar na mesma direção: é ela o verdadeiro modelo do discípulo.
A sua fé no amor de Deus é incondicional: seu tesouro é o próprio Deus. E, ao entregar-se totalmente a Ele, a viúva deseja também doar tudo o que pode em favor dos mais pobres. Esse abandono confiante no Pai é, de certo modo, a antecipação do mesmo dom de si que Jesus realizaria em breve com a sua paixão e morte. É a “pobreza em espírito” e a “pureza de coração” que Jesus proclamou e viveu.
Isso significa “depositar a nossa confiança não nas riquezas, mas no amor de Deus e na sua providência. […] Somos ‘pobres em espírito’ quando nos deixamos nortear pelo amor para com os outros. É então que partilhamos o que temos, colocando-o à disposição de quem quer que esteja em necessidade: um sorriso, o nosso tempo, os nossos bens, as nossas capacidades. Tendo doado tudo por amor, somos pobres, ou seja, estamos esvaziados, anulados, livres, e temos o coração puro.1”
A proposta de Jesus revoluciona a nossa mentalidade: no centro do seu pensamento estão os pequenos, os pobres, os últimos.
“Ela, da sua pobreza, ofereceu tudo o que tinha para viver.”
Esta Palavra de Vida nos convida, antes de tudo, a renovar a nossa plena confiança no amor de Deus e a nos confrontarmos com o seu olhar, para ver além das aparências, sem julgar e sem depender do julgamento dos outros, a realçar o positivo de cada pessoa.
Ela nos sugere que a lógica do Evangelho é a doação total, que constrói uma comunidade pacificada porque nos impulsiona a cuidarmos uns dos outros. Ela nos anima a viver o Evangelho no dia a dia, sem alarde; a doar com generosidade e confiança; a viver com sobriedade, na partilha. Ela nos convoca a dedicar atenção aos últimos, para aprender com eles.
Venant nasceu e foi criado no Burundi. Ele conta: “Na aldeia, minha família podia orgulhar-se de ter uma ótima propriedade, que garantia uma boa colheita. Nossa mãe, consciente de que tudo era providência do Céu, recolhia os primeiros frutos e os distribuía regularmente na vizinhança, começando pelas famílias mais necessitadas e destinando a nós mesmos apenas uma pequena parte do que sobrava. Com esse exemplo aprendi o valor da doação desinteressada. Assim, entendi que Deus estava me pedindo que eu desse a Ele a melhor parte; mais ainda, que desse a Ele toda a minha vida”.
1) Cf. LUBICH, Chiara. Pobreza que é riqueza. Palavra de Vida, novembro de 2003.
Organizado por Letizia Magri com a comissão da Palavra de Vida